O isolamento pela covid-19 modificou a forma de trabalho nos mais variados segmentos. A maior parte das empresas e dos trabalhadores, agora em casa, precisaram se adaptar à nova realidade e tentar manter a produção dos escritórios em seus lares. E isto só tem sido possível graças a internet. O assunto é tema do programa Impressões da TV Brasil que vai ao ar no neste domingo (24), às 22h30, com o jornalista e professor Pedro Burgos, coordenador do Programa de Comunicação e Jornalismo do Insper e autor do livro “Conecte-se ao que importa – Um manual para a vida digital saudável”.
“Ainda é cedo para gente avaliar todos os impactos. A gente tem visto empresas que estão muito satisfeitas com a performance. Eu vi o CEO do Twitter dizendo que, talvez, os trabalhadores nunca precisem voltar para o escritório. Algumas empresas de tecnologia já tinham muito mais experiência em home office. Talvez em alguns ambientes a gente tenha visto melhorias em termos de eficiência”, disse Burgos.
Para ele, a pandemia chegou no Brasil em um momento em que as tecnologias estavam avançadas. “É muito difícil pensar que até pouquíssimo tempo atrás a gente teria a infra para fazer essas conversas, com câmeras boas, transmitindo dados em velocidade boa, de forma mais ou menos sincronizada”, disse. Ainda assim, Burgos defende que há espaço para melhorar, principalmente em relação a estabilidade das conexões.
Burgos destacou a iniciativa de alguns países que, aproveitando o número reduzido de pessoas nas ruas, está investindo na expansão de infraestrutura para atender a demanda crescente por tecnologia. “É muito mais fácil você fechar uma rua e passar e mudar o cabeamento subterrâneo quando não tem carro passando. Então, tenho visto bastante isso. Isso aconteceu na Itália, na Espanha, em cidades dos EUA. Seria um bom momento para a gente refazer essa infraestrutura tecnológica”, afirmou.
Jornalismo
Quanto ao mundo do trabalho, Burgos citou, no Brasil, o exemplo do jornalismo que sempre foi feito nas ruas e está sendo mantido em um novo formato. Segundo ele, o Estadão e a Folha de São Paulo estão conseguindo alimentar informações para os cidadãos mesmo com quase a totalidade dos profissionais em casa. “Tem uma certa ideia dentro do jornalismo, de que o bom jornalismo gasta sola de sapato. Que você tem que ir para a rua. A gente está impossibilitado de fazer isto e sem a internet hoje seria muito difícil”, disse.
Para ele, o trabalho em casa, através do uso de ferramentas e plataformas virtuais, tem permitido acesso à personalidades que teriam agendas mais restritas. “[A internet] tem possibilitado não só manter o trabalho de informar as pessoas, mas também expandir um pouco quem você consegue ouvir. Você consegue, às vezes, chegar a gente que você não conseguiria chegar com relativa presteza. Tem sido um momento interessante para repensar formas, repensar o trabalho de diversas formas e o jornalismo não é diferente neste sentido”, avaliou.
Empresas e negócios
Na conversa com a jornalista Katiuscia Neri, Burgos ainda destacou que todo esse movimento pode levar muitas empresas e negócios a repensarem custos, com estruturas físicas. “Você fazer as pessoas trabalharem em casa tem feito repensar onde é possível cortar custos. Talvez não seja pagando menos para as pessoas, mas sim usando menos espaço físico”, disse.
Apesar de bons resultados, o jornalista lembra que, em alguns casos, os profissionais, estando em casa, têm que assimilar outras funções paralelamente ao trabalho. No caso de pais, por exemplo, muitos tiveram que assumir parte das funções de professores de seus filhos. Para que a dinâmica funcione, segundo ele, é preciso balancear essa agenda e definir claramente cada função.
No quesito educação, Burgos destaca que será a área mais afetada pela mudança de comportamento com maior uso de ferramentas da internet. “O que talvez a gente veja, no médio prazo, seja uma consolidação de cadeias maiores, com mais capacidade de produzir cursos a distância bons e baratos vencendo instituições medianas que dão aulas físicas”, avaliou.