Os últimos textos sobre as “deficiências” de nossa formação acabaram gerando fatos interessantíssimos, que merecem uma análise, algo normal dentro do processo de mudança cultural.
Os “líderes” criam e inserem a cultura à medida que as organizações se formam e crescem. A nossa, por exemplo, é secular. Entretanto, a cultura é também criada nas interações com outras pessoas em nossa vida diária, e o melhor meio de desmistificar o conceito de cultura é, acima de tudo, estar consciente de nossa experiência cultural, perceber como algo vem a ser compartilhado, assumido como verdadeiro, e observar isso particularmente nos novos grupos em que entramos e dos quais passamos a fazer parte. Trazemos a cultura de nossa experiência anterior, mas estamos constantemente reforçando ou construindo novos elementos à medida que encontramos novas pessoas e novas experiências. É possível que os “círculos hierárquicos” tenham sido criados para evitar a troca de experiências, adiando assim as possíveis mudanças. E que as redes sociais estejam acelerando tal processo!

A força e estabilidade da cultura derivam do fato de ela estar baseada no grupo, de que o indivíduo assumirá certas suposições básicas para ratificar sua filiação ao grupo. É possível que por isso seja dada tamanha importância aos ritos de passagem em nosso meio. Se alguém nos pede para mudar o modo de pensar ou perceber, e esse modo está baseado no que aprendemos em um grupo ao qual pertencemos, resistiremos à mudança porque não desejamos nos desviar de nosso grupo, mesmo se particularmente acharmos que o grupo está errado. Tal fato é muito facilmente identificado em nosso meio. Esse processo de tentar ser aceito por grupos de filiação ou de referência é inconsciente e, em virtude desse fato, muito poderoso. Meus textos em particular, são textos com uma carga “psicanalítica” muito forte, além de forte carga sociológica e antropológica, talvez por isso mexa tanto com a mente dos opressores e oprimidos.
Os dois textos provocaram muitas discussões nos grupos “fechados” nos quartéis e nas redes de relacionamento, mas alguns pontos se repetiram. A raiva foi um sentimento comum no meio dos “opressores”, a negação dos fatos também, entre os “oprimidos” uma sensação de “alívio” e “vingança” inundou o interior de cada um. Alguns buscaram compreender minhas palavras e partiram em minha defesa, outros leram cuidadosamente meus textos para achar uma “brecha” para me punir e aqueles que “traíram” o grupo. É interessante, como em determinados grupos tentam provar que não tenho “legitimidade” para abordar o tema, pois nunca fui “cadete”, como se a lógica não se repetisse, em outros casos, no caso do Curso de Formação de praças tentam justificar que isso ocorreu há muito tempo e que não é mais assim. O mais interessante é que forçam aqueles que passaram pelo “rito da academia” a firmarem o “pacto do silêncio”, seja por meio da coerção moral ou por meio da “coerção legal”. Fatos semelhantes ocorrem em outros grupos, em outros cursos, o maior exemplo é o Curso de Operações Especiais.

 
A mudança é lenta, mas a construção é diária!