Em Brasília a blogosfera policial tem ganho novos adeptos. Iniciou com o Cathalá (Blog da Segurança Pública), Tribuna de PM, Policiamento Inteligente, Blog do Coronel Martins, Blog do CB Oliveira Filho (Policiamento e Comunidade) e agora o Blog do Major Santanna. (Ficarei devendo os links).
O Major Santanna tornou-se um amigo a pouco tempo, mas já tenho uma grande admiração por ele. Negociador, instrutor de vários cursos e um sujeito de uma personalidde impar, que contribuí de maneira sobrenatural para o meu desenvolvimento, enquanto pesquisador dentro da corporação, assim como o Cabo Oliveira Filho, que sempre me convida para as aulas inaugurais nos cursos onde ele ministra aula de policiamento comunitário.
Hoje apresento aos leitores do Blog Policiamento Inteligente um texto retirado do blog do Major Santanna que me chamou a atenção:
Meu filho foi abordado pela Polícia Militar do Distrito Federal ontem à tarde.
Eu estava em sala de aula, na Academia de Polícia Militar de Brasília, assistindo a uma palestra do Curso de Altos Estudos da PMDF (equivale ao CSP em outros estados).
Meu filho não mora comigo. Mora com a mãe (que também é Oficial da PMDF) e com os avós. Pelo fato da mãe dele não ter conseguido me contatar, só tomei conhecimento por volta das 18:40 horas. Liguei para ele e, depois de iniciar uma breve conversa, de imediato perguntei como fora a abordagem, pois percebi o quão constrangido e nervoso ele estava.
Ele me disse que os policiais, descendo com “arma em punho”, solicitaram que ele fosse ao chão. Depois disso, que levantasse suas roupas e tirasse o boné. Ele tentou, como qualquer um tentaria, explicar o que ocorreu, mas recebeu a determinação de ficar calado.
Simultaneamente e possivelmente após pedirem que ele saísse da posição em que estava, perguntaram de onde ele vinha e para onde ele ia. Ele disse estar indo à casa de um amigo (que mora na quadra 715 Sul – área relativamente nobre da Capital Federal) fazer um trabalho de informática; e complementou que vinha da casa de sua mãe (na 713 Sul). A partir deste instante os policiais relataram um roubo a uma senhora, feito por 04 agressores, de quem levaram uma bolsa. Determinaram em seguida que ele fosse correndo para a casa do amigo, pois os bandidos poderiam estar nas imediações.
Meu filho obedeceu.
Meu filho correu como pôde e o quanto pôde.
Meu filho ainda está assustado.
Meu filho. Mas podia ter sido o seu!
É bom que lembremos o que há pouco eu discutia e debatia em um grupo acadêmico, sob a ótica da Criminologia e da Sociologia Criminal, o “labeling” ou etiquetamento. Rasamente, seria como rotular uma pessoa como sendo alguém que tenha um comportamento previamente determinado socialmente.
Me pareceu que meu filho estava, segundo pesquisas sociológicas, no perfil de possíveis abordados. No grupo dos que possuiriam uma “identidade desviante”. E o pior: essa possível rotulação não é algo previamente acertado por policiais. Para nossa infelicidade estamos falando de um conceito social. Como eu, meu filho é “negão”. Apesar dos 11 anos, é mais alto do que eu imaginaria que pudesse ficar (1,67 m). Tem tamanho de garoto de 14. Só tamanho. Mas é “negão”. Naquele momento não era o FILHO DO MAJOR SANT’ANNA. Era um brasileiro. No lugar errado e na hora errada, suponho eu. É uma conjectura. Só uma conjectura.
Irônico senhores. No mínimo irônico. Vejam só: ontem eu postei novo artigo no blog com título “E VOCÊ?”. Parecia que eu estava adivinhando. Dêem uma lida:
“Tem muita gente sendo injusta e violentamente vitimada. Tudo pelo fato de alguns doutos entenderem que mais tempo nas ruas e menos treinamento resolvem o problema de segurança da população. Será esse o caminho? Duvido.”
Mais irônico ainda é o fato de uma de minhas monografias (2004) ter o título “ABORDAGEM POLICIAL, À LUZ DOS DIREITOS HUMANOS, COM USO DE ARMA DE FOGO”. Tenho que dar um jeito de socializá-la. Por minha conta.
Um dos parágrafos escritos no estudo de 2004:
“A falta ou a não observação de normatização das técnicas e táticas de abordagem policial dificulta a análise destas segundo os critérios dos direitos humanos, da legislação nacional e dos meios empregados. Isto possibilita o uso de técnicas inadequadas, que quase sempre resultam em arbitrariedade, ilegalidade e violência. Sem uma supervisão e orientação única a respeito dessas técnicas, ao longo do tempo, causam uma deformação e desatualização destas. Precisa-se, portanto, um constante aprimoramento, através da busca de novas técnicas e do constante treinamento.”
Quer mais ironia? Desde 1995 ou dou aulas dentro da PMDF. Desde 1998 eu colaboro fora da PMDF com treinamento policial. Em 2005 e 2006 foi contratado pela ONU como consultor de treinamento. Em 2008 fui instrutor junto com a SWAT. Hoje tenho, apenas fora da PMDF, mais de 5.500 profissionais de segurança, dentro e fora do Brasil. Eu posso dizer de cadeira: nós treinamos pouco. Muito pouco.
Hoje o resultado foi comigo. E no final foi “bom”. Era o meu filho. Era a Polícia Militar do Distrito Federal. Mas profissionais normalmente reproduzem o que são capacitados a fazer. As competências e habilidades neles incutidas foram formatadas por nós. Quem é mais antigo os capacitou. Talvez eu os tenha capacitado. Ou você.
Esta é a minha Polícia. Esta é a sua Polícia.
Estou no caminho certo.
Aos que me conhecem, vai o recado: E vou continuar treinando profissionais de segurança. Quantos e enquanto eu puder. Serve para quem não me conhece também.
E você? E os seus filhos? Como estão?
Para ajudar:
http://www.investidura.com.br/sobre-investidura/3368.html?joscclean=1&comment_id=134
http://www.oquintopoder.com.br/protecaoeseg/index4.php
http://blog.cevipol.com.br/2009/08/04/prisao-preventiva-vitimizacao-policial-e-etiquetamento/
Fonte: http://leonardosantanna.wordpress.com//