Há 13 anos o projeto Cabocla Bordando Cidadania capacita e emprega presos da Unidade Prisional Regional (UPR) de Goiás na produção de moda artesanal com os bordados tradicionais que retratam a poesia de Cora Coralina e a cultura da cidade. Para celebrar todos esses anos do projeto, um documentário contando a experiência de vários atores envolvidos nesta ação de reintegração social será lançado oficialmente nesta quarta-feira (21/07), às 19h30, nas redes sociais da Diretoria Geral de Administração Penitenciária (DGAP) e da Prefeitura de Goiás, dentro da programação semanal do aniversário da cidade, que é comemorado oficialmente no dia 25 de julho.
Produzido com recursos da Lei Aldir Blanc, o documentário conta as histórias dos presos que viram no projeto Bordando Cidadania uma nova oportunidade para recomeçar e mudar o direcionamento de suas vidas. Além dos detentos e do relato da empreendedora social e coordenadora do projeto, Milena Curado, o filme também entrevista o diretor adjunto da DGAP, Aristóteles Assal, servidores da UPR de Goiás, psicóloga, advogada e promotor de justiça. Todos envolvidos diretamente neste projeto que já beneficiou dezenas de custodiados da unidade.
A coordenadora do projeto, Milena Curado, criou um negócio social, que gera renda e remição de pena para os detentos. Ela espera que o curta metragem “Bordando Cidadania” inspire outras empresas e mostre que é preciso dar oportunidades para a população carcerária. “Em pouco mais de 30 minutos, o filme vai levar a emoção e a humanidade presentes neste lindo projeto de arte, moda e artesanato, inspirando outras pessoas e mostrando o poder transformador da economia criativa aliada às tecnologias sociais”, ressalta.
Para o diretor do documentário, Vincent Gielen, foi gratificante registrar o trabalho do projeto Cabocla e mostrar que ele proporciona uma nova perspectiva para a vida dos presos. “Foi como abrir os olhos sobre o que cada indivíduo está passando, a dificuldade de cada um. Quando a gente não sabe muito sobre o tema, achamos que as coisas são mais simples. Este filme me trouxe uma profundidade. A partir do momento que tive a oportunidade de conhecer algumas daquelas pessoas, não ficou mais tão simples julgar”, defende Vincent.
Segundo o diretor adjunto da DGAP, Aristóteles Assal, o projeto começou em 2008 e logo no início surpreendeu a todos positivamente pela aptidão que os custodiados desenvolveram para fazer bordados. “O projeto faz com que os presos melhorem seu comportamento para participar porque além de remir pena também é uma forma de receber remuneração pelo trabalho e ajudar as famílias. De todos os projetos de ressocialização que temos no Estado, ele é um dos mais antigos e que apresenta os melhores resultados. A marca Cabocla é reconhecida internacionalmente. O trabalho é excepcional, as peças são fantásticas”, explica.
Sobre o projeto
O projeto Cabocla surgiu há doze anos quando a empreendedora social Milena Curado conheceu um outro projeto social com presidiário em Goiânia. “Eu precisava de pessoas que tivessem tempo para se dedicar ao trabalho e as presas precisavam de alguém que lhes desse a oportunidade. No dia 12 de janeiro de 2008 fui pela primeira vez à Unidade Prisional de Goiás e junto com minha mãe fizemos uma capacitação em bordados. Começamos com cinco mulheres que estavam presas”, conta.
A oportunidade de ocupação, associado à renda e remição de pena, fizeram com que o projeto fosse multiplicado dentro do estabelecimento penitenciário. “Na época, duas dessas detentas tinham sido presas com os maridos, e elas ensinaram eles a bordar no dia da visita, momento em que se encontravam. Os homens se inseriram no projeto e o melhor, eles se tornaram multiplicadores. Nunca imaginei levar esse ofício tradicionalmente feminino a homens encarcerados”, afirma Milena.
Atualmente o projeto Cabocla Bordando Cidadania emprega 20 presos da UPR de Goiás, mas antes da pandemia este número chegou a 30. Milena conta que chega a ter lista de espera para novos custodiados que querem bordar. “No mês passado surgiram duas vagas, fui pegar o nome de interessados e me deram 16 nomes. Mas eu não consigo colocar todos porque eu faço pagamento e trabalho conforme demanda. Não tenho capital para empregar todo mundo. Uma pena! Se eu tivesse dinheiro, acredito que 80% da cadeia bordaria”.
Em alguns casos, quando os presos saem para o regime semiaberto, eles continuam no projeto até arrumarem algum trabalho. “Hoje temos três pessoas fora do presídio, um do regime semiaberto, outro do regime domiciliar e um egresso. Mas sempre incentivo que eles arrumem outro trabalho para abrir vaga para quem está lá dentro”, pondera Milena. A empresária é formada em Gestão Pública e pós-graduada em Moda e Economia Criativa.
Milena já recebeu vários prêmios em reconhecimento ao trabalho de reintegração realizado com os custodiados, como Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, na categoria melhor tecnologia de gestão compartilhada do patrimônio cultural brasileiro, concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN); além dos prêmios Mulher Empreendedora, Goiás Mulher, Troféu Brasilete Ramos Caiado, Troféu Ouro Estadual e Nacional do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios, Prêmio Lide Mulher Goiás – Empreendedora Social, Projeto “Ela Faz História” – Facebook, Comenda Anhanguera, entre outros.
Diretoria Geral de Administração Penitenciária
Comunicação Setorial