Aqui chegamos, na metade do século passado, vindos de todos os recantos deste país para construir, na vastidão do Planalto Central, a instituição Polícia Militar do Distrito Federal. Muitos já não estão mais entre nós. Dedicamos grande parte de nossas vidas a uma causa justa de preservação da ordem pública e da segurança da comunidade. Hoje, na última fase de nossas vidas, infelizmente estamos em uma situação de quase ostracismo (esquecimento) institucional.
Consolidamos essa Polícia Militar em todos os seus aspectos como Instituição permanente de Estado. Seus quadros profissionais são constituídos da mais alta qualificação e competência. Nesse espaço de tempo, foram muitas as conquistas, obra dos bravos pioneiros que hoje se encontram na reserva ou reformados. Dentre elas, podemos citar a criação de estabelecimentos de ensino e instrução – Academias de Polícia para Oficiais e Graduados – que permitem o ingresso dos jovens de famílias do DF na Corporação.
Foram anos de muitas lutas no Congresso Nacional para ver aprovados projetos que atendessem aos anseios da sociedade e também da valorização profissional. Nesse sentido, lutamos pela inserção na Constituição Federal de dispositivos que permitiram a criação do Fundo Constitucional do Distrito Federal para assegurar a manutenção dos serviços de segurança pública, a garantia de pagamento de salários dignos, educação e amparo a saúde com qualidade, para policiais militares do DF.
Além disso, esses valorosos policiais militares inativos também criaram uma estrutura administrativa e operacional sustentáculo da atual PMDF. Se hoje temos uma das melhores polícias do Brasil e com policiais capacitados, inclusive para missões de paz no cenário internacional, devemos reconhecer que tudo isso são os frutos de ações distantes no tempo. Nada foi por acaso.
Estamos com a idade um pouco mais avançada, mas não menos combativos. Queremos manter o alto padrão de atendimento da nossa Polícia Militar, não só para a população, mas também para o nosso público interno. Para isso almejamos a aplicação do Estatuto do Idoso na Corporação, principalmente nos serviços de atendimento e amparo à saúde de nossos veteranos.
Nos poucos e raros contatos que mantemos com a Corporação, não recebemos dos colegas da ativa o tratamento devido a quem muito já fez pela instituição que eles hoje pertencem, ou seja, não reconhecem que o nosso legado de trabalho e dedicação é que permite desfrutarem de uma instituição forte, moderna e devidamente aparelhada para o cumprimento de suas atribuições constitucionais, pois, em muitas oportunidades, os inativos e pensionistas são tratados com desprezo e desrespeito. Para esses jovens policias militares da ativa, ser velho se tornou sinônimo de imprestável, de fraqueza e de estorvo. São, pois, situações indesejáveis e inaceitáveis.
Por todo o exposto, podemos finalizar esse desabafo dizendo que não desejamos passar pelas tristes situações traduzidas na música “Cidadão”, interpretada por Zé Ramalho:
“Tá vendo aquele edifício moço
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Eram quatro condução
Duas prá ir, duas prá voltar
Hoje depois dele pronto
Olho prá cima e fico tonto
Mas me vem um cidadão
E me diz desconfiado
“Tu tá aí admirado?
Ou tá querendo roubar?”
Meu domingo tá perdido
Vou prá casa entristecido
Dá vontade de beber
E prá aumentar meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio
Que eu ajudei a fazer…
Tá vendo aquele colégio moço
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Fiz a massa, pus cimento
Ajudei a rebocar
Minha filha inocente
Vem prá mim toda contente
“Pai vou me matricular”
Mas me diz um cidadão:
“Criança de pé no chão
Aqui não pode estudar”
Essa dor doeu mais forte
Por que é que eu deixei o norte
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava
Mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer…
Tá vendo aquela igreja moço
Onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo
Enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também
Lá foi que valeu a pena
Tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que Cristo me disse:
“Rapaz deixe de tolice
Não se deixe amedrontar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asa
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar”.
Brasília, DF, 28 de agosto de 2012
CORONEL QOPMDF REF MAURO MANOEL BRAMBILLA
PRESIDENTE DA ASSOR